5 de mar. de 2012

DEZENAS DE FAMÍLIAS ENVOLVIDAS NA PRODUÇÃO DE SUCO DE UVA


Incentivados pelo pastor Erno Feiden e pela esposa Emilda, com apoio do Capa, cada vez mais teutonienses descobrem o valor nutricional e os benefícios da fruta para a saúde
Teutônia – Produzir suco de uva 100% orgânico e natural pode estar ao alcance de todos. A ideia se populariza cada vez mais no município e na região graças ao incentivo do pastor voluntário do Sínodo Vale do Taquari na área do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (Capa), Erno Feiden, e de sua esposa, a professora aposentada Emilda Feiden. Todos os anos, em sistema de mutirão, eles reúnem em sua residência, no Bairro Boa Vista, famílias interessadas em conhecer o processo de produção do suco de uva. Com o passar do tempo, estas famílias acabam se tornando independentes, adquirem suas próprias suqueiras e passam a produzir para consumo próprio, dos familiares e amigos. Todo o trabalho, desde o plantio dos parreirais, passando pelos cuidados necessários com o crescimento das vinhas até a colheita das frutas, tem o acompanhamento e supervisão do engenheiro agrônomo do Capa, Lauderson Holz.
Origem
Há 32 anos, desde o início do trabalho pastoral em Ajuricaba (RS), próximo de Ijuí, o casal passou a se interessar pela produção de suco, graças ao incentivo de uma família local. “Adquirimos uma máquina simples feita por um funileiro de Panambi. Motivamos nossos filhos a tomar suco e em todos os lugares onde moramos, como Três Passos, Imigrante e agora em Teutônia, conseguimos despertar em muitas famílias o interesse em produzir o suco para consumo próprio”, conta Feiden. Sua esposa ressalta que desde o início o casal teve o cuidado e preocupação em utilizar somente uvas orgânicas. “Estamos ligados ao Capa desde 1978. O órgão nos abriu os olhos para sair do refrigerante e valorizar os frutos do nosso próprio quintal, sem o uso de qualquer produto químico. Durante nossa caminhada, encontramos vários parceiros que aderiram a este pensamento”, revela Emilda.
Manejo
Desde a atuação em Três Passos, a família conta com uvas de parreiral próprio. Porém, como o consumo é grande, o casal encontrou produtores que se interessaram em plantar conforme o manejo sugerido pelo Capa. “Fazemos o acompanhamento nas propriedades e explicamos a importância de substituir o secante químico pela roçada no controle das plantas espontâneas”, informa Holz. Além de um produtor na localidade de São Roque, município de Garibaldi, o grupo adquire uvas de produtores de Linha Brasil, interior de Roca Sales. “Ainda não encontramos uma uva tão saborosa quanto a produzida em Linha Brasil, graças à influência do solo, do clima, do relevo, da mata, da exposição Norte ao sol da manhã, da não utilização de agrotóxicos ou secantes e também em função de se tratar de uma pequena produção”, explicam a professora e o agrônomo.
Mutirão
Morando em Boa Vista há 10 anos, foi em Teutônia que o casal conseguiu o maior número de adeptos na produção de suco. “Em 2011, foram 26 famílias e produzimos seis mil garrafas de 600 mililitros. Neste ano deverão ser mais de 30 envolvidas, fora aquelas que já produzem de forma independente em suas residências, devendo chegar a uma quantidade ainda maior”, enumera Enilda. Aliás, a produção própria é algo que os Feiden sempre incentivaram. Quem possui suqueira própria traz e quem não possui utiliza a suqueira dos outros. “O trabalho é em forma de mutirão, dividindo tarefas. É algo prazeroso, uma atividade em família onde cada integrante pode participar, independente de sua idade”, ressalta a professora.
Incentivo
Um dos argumentos que estimulam os produtores de uva a plantar dentro do manejo sugerido é o valor pago pela uva. “Compramos o quilo de uva bordô dos produtores que trabalham dentro daquilo que solicitamos a R$ 1,20 o quilo, enquanto que na cantina eles recebem no máximo R$ 0,80”, compara Feiden. Ele cita que um dos produtores de Linha Brasil já está pensando em ampliar seu plantio para 2,5 mil vinhas, o que representa quase um hectare e uma produção que pode chegar entre 15 e 20 toneladas no seu auge, que é em cerca de quatro anos. Em condições normais, a vida útil de um parreiral vai de 30 a 40 anos, ou mais, dependendo do cuidado.
Agroindústrias
O casal aponta que seu objetivo não é comercializar o suco de uva e sim produzir para o consumo da própria família e fazer com que mais pessoas aprendam o processo, produzindo algo que é extremamente saudável para o consumo. Ao mesmo tempo, garante que existe uma demanda muito grande pelo produto, sendo a merenda escolar para os municípios uma grande fatia. “As pessoas podem criar suas agroindústrias e produzir para a merenda, por exemplo. Quem vai vender por licitação para o município de Teutônia em 2012 vai receber em torno de R$ 7,00 por litro”, adianta Feiden.
Pontos positivos
Além de todos os benefícios nutricionais do suco de uva natural e orgânico (leia o Box que acompanha esta matéria), a produção caseira traz vários aspectos positivos, entre eles, a fuga do refrigerante e dos sucos industrializados. Outros fatores a destacar: o incentivo à produção orgânica local, o resgate do trabalho em mutirão, da noção do coletivo, e o reaproveitamento de garrafas de vidro, que cria nas pessoas uma consciência ecológica. “O grande objetivo é aproveitar as frutas que a pessoa pode ter em casa. O fato de atrair pássaros, abelhas e outros tipos de bichos, comprova que o alimento não contém agrotóxicos. E é justamente por este tipo que devemos optar para o nosso consumo”, define Holz. O casal Feiden afirma que a produção do suco é um estilo de vida e acaba se transformando num hobby. “É uma relação profunda com a natureza e com as pessoas que defendem esta iniciativa”.
Diferenças
O suco produzido em larga escala pela indústria passa por processos de filtragem que retiram os cristais e as fibras naturais da uva, além da pasteurização e do uso de conservantes. Além disso, não há como comprovar a origem das uvas e nem saber se elas foram produzidas sem a utilização de produtos químicos. “O suco que nós produzimos mantém os cristais e as fibras depositadas no fundo, o que é extremamente bom para a saúde”. Emilda pondera que, no caso da pessoa não gostar da presença das fibras, é possível utilizar o coador antes de servir. O casal define que produzir o suco é investir em si próprio, na qualidade de vida. “É uma opção de vida e de saúde que temos que tomar”. Um dos produtores de Linha Brasil, José Roier, foi entrevistado por Erno Feiden durante a colheita da uva no mês de janeiro. “Ele disse se sentir realizado e valorizado sabendo que produz algo saudável para as pessoas. Isto aumenta a autoestima da pessoa”, acrescenta Feiden.
Saiba mais
Uma suqueira de inox com capacidade para produzir 30 litros de suco custa em torno de R$ 1.350,00 e sua durabilidade é ilimitada. Além da uva, pode ser utilizada para a produção de suco de goiaba, jabuticaba, carambola, acerola, guabirova, pitanga, butiá, pêssego, ananás, abacaxi, uvaia, amora, entre outras. No caso da uva, a colheita das variedades Niágara Branca e Rosa se dá na metade de janeiro, enquanto que a Bordô e a Francesa (ou Concorde) se dá no final de janeiro e os tipos Isabel e Lorena no final de fevereiro. O suco é feito da seguinte forma: primeiro a uva é debulhada (retirada do cacho) e são separadas as frutas podres e as verdes; em seguida é colocada na suqueira, que possui três compartimentos: um para a água que ferve, outro onde o suco é depositado e um terceiro onde ficam os grãos; o suco é engarrafado quente e fechado com tampas plásticas ou metálicas. “Não precisa refrigerar, não possui conservantes e nem açúcar. Além disso, se mantém por vários anos e não perde a qualidade”, completa Holz.
Quem tiver interesse em ter seu próprio parreiral e conhecer mais sobre a produção caseira de sucos pode procurar o Capa, que funciona junto à sede do Sínodo Vale do Taquari da IECLB, ao lado do Centro Administrativo de Teutônia. O órgão presta todas as orientações e o acompanhamento necessário para o cultivo, desde o manejo da terra até a colheita do produto. O telefone para contato é o (51) 3762-2988.
(Erno Feiden colaborou com fotos e na entrevista com o produtor José Roier)
Suco de uva: um santo remédio
Por ser rica em vitaminas A, B e C, além de proteínas, carboidratos, iodo, fósforo e flavonóides, a uva protege o coração contra infartos, já que ajuda a desobstruir as artérias e regula as taxas de colesterol no sangue. Também melhora o funcionamento do fígado e dos rins, auxilia o estômago a se recuperar mais facilmente de úlceras e da gastrite, além de eliminar ácido úrico do sangue. As uvas preta, roxa e rosada possuem uma quantidade maior de flavonóides, substâncias com função antiinflamatória que também protegem o organismo contra o ataque dos radicais livres. Tomar 2 copos de suco de uva natural e orgânico por dia pode reduzir em até 40% o risco de sofrer infarto, pois a fruta previne a obstrução de artérias.
O tratamento com suco de uva é utilizado nas dietas de desintoxicação, pois melhora o estado da maior parte dos doentes, regenera as células do fígado e dos rins, purifica o sangue, sua ação laxativa poderosa e suave limpa o intestino de suas fermentações putrefativas, é depurativo e renova o plasma do sangue. A riqueza em vitaminas e sais minerais confere à fruta poder no combate de várias doenças, entre as quais podemos destacar reumatismo, gota, artrite, hipertensão, prisão de ventre, anemia, hipercolesteroemia, depressão, eczema e hepatite. Além disso, a uva é diurética, tônica, reconstituinte, ativadora das funções intestinais, vitalizante, mineralizante, antiinflamatória, calmante e adstringente. Por seu alto teor em sais de ferro, o suco de uva é aconselhado no tratamento da anemia. Pelos inúmeros fermentos que contém, a uva favorece a mudança da flora bacteriana do intestino, sendo indicada nas perturbações grastrointestinais.
O segredo do suco de uva no combate ao envelhecimento é simples e poderoso. As uvas contêm 20 antioxidantes conhecidos, que funcionam em conjunto para combater os radicais causadores de doenças e envelhecimento. Os antioxidantes encontram-se nas cascas e sementes.
(Texto: Marco Mallmann - jornalista MTb 8368 - Jornal Informativo de Teutônia
Fotos: Erno Feiden e Edson Schaeffer)

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