24 de ago. de 2011

SEMANA NACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

“Minha porta está sempre aberta. Eu sou gente, criatura como vocês. Eu preciso conviver e ter amigos e amigas.”
Esta frase escrita por uma menina deficiente visual, com palavras simples, mas de um significado imenso, nos toca profundamente.
       Vamos refletir algumas palavras chave dessa frase: Amigos, conviver e inclusão.
 Ter e conviver com amigos, é uma riqueza incalculável, sem preço nenhum. É essencial e de fundamental importância em tê-los, independentemente, ou não, de ser portador de uma limitação ou com deficiência, pois necessitamos uns dos outros, para suavizar e embelezar a nossa vida.
 Cultivar a convivência, com a família, amigos e comunidade, nos engrandece fortalece, a superar as muitas barreiras impostas pela exclusão, do preconceito, da vergonha e outras.
 Vivenciar a inclusão em todos os âmbitos da vida, e conscientizá-la para a sociedade, deixando que a própria pessoa com deficiência seja o seu porta-voz é uma missão sublime.

ORAÇÃO
Senhor Deus Pai, ao orar, olhei ao redor e com tristeza vi imagens desoladora de desamor desrespeito, desigualdades, de violência, guerras, de sofrimentos, de preconceito, discriminação e pobreza.
Devo lhe confessar das muitas dúvidas e medos que me assolam e principalmente me assustam, pois me paralisam e travam o meu consciente e todos os sentidos, gestos e ações.
       Sei também Senhor que este não envolver se chama a omissão:
De estender a mão, amparar e amar o próximo;
De viver em paz e de proteger a natureza;
De repartir e compartilhar o pão com os que não têm;
De valorizar a vida e de aceitar todos com as suas diferenças;
Esqueci do fundamental que é o amor e a solidariedade.
       No entanto Senhor o Teu amor é único e infindável para com todos os seres humanos, pois aos teus olhos somos todos iguais, não existe diferença sociais, limitações e deficiências. E esse amor grandioso nos dá a sublime esperança de cada dia um novo recomeçar de vida.
De novas alegrias, após lágrimas derramadas;
De novos sonhos, após metas alcançadas;
De novas possibilidades e dons, após a perdas e limitações;
Do perdão renovado, após a ofensa;
De novas esperanças e recomeço de vida, após o sofrimento.
Senhor Deus misericordioso, nos envolva com Tua bondade e faça que todos nós possamos entender o Teu imenso amor e pedimos a graça de Teu Filho Jesus Cristo, de compartilhá-lo com a comunidade. Amém.
Carla Koppe


SOU EU O DEFICIENTE?
A cada ano, na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência que acontece de 21 a 28 de agosto, as comunidades e organizações confessionalmente vinculadas à IECLB são motivadas a refletir, junto com a sociedade brasileira, sobre temas relacionados à inclusão e acessibilidade e para isso quero compartilhar um texto de Frei Betto publicado em Agosto de 2001 e que nos pode ajudar a pensar com carinho sobre esses temas:
Porque sou tetraplégico, preso a uma cadeira de rodas, chamavam-me de "aleijado". Por sofrer de cegueira, fui considerado "deficiente físico". Psicótico, trataram-me como um bicho de sete cabeças. Agora, por ter perdido um braço num acidente, cuja pancada deixou-me leso, sou qualificado de "portador de deficiências física e mental".
Mudam os termos, mas não a cultura que ponha fim aos preconceitos que me cercam. Antes, diziam que sou mongolóide; agora sofro de síndrome de Down. Era leproso; agora tenho hanseníase.
Nesta sociedade contaminada pela síndrome de Damme, e que cultua a idolatria dos corpos - ainda que a cabeça se assemelhe à do camarão - sou confinado, léxica e socialmente, às limitações que carrego.
Se saio à rua, pouco encontro rampas, em calçadas e prédios, para passar com a minha cadeira de rodas. Com freqüência, há um carro estacionado na vaga a mim reservada. Temo um novo atropelamento ao cruzar a rua, pois o tempo do semáforo e a fúria dos motoristas não respeitam a lentidão deste corpo que se apóia na bengala.
Muitas vezes, na rua, dependo da solidariedade anônima para subir para o ônibus ou poder sentar no metrô. À noite, sonho com fantasmas gritando em meus ouvidos:
Fique em casa! Sua debilidade é o seu cárcere! Não se atreva a imiscuir-se neste mundo de corpos esbeltos e saudáveis, sarados e curados, lindos e louros. Fique em casa!
Não fico. Nem aceito que minhas limitações permaneçam estigmatizadas por expressões equívocas. Não sou um portador de deficiência. Sou um portador de inteligência, aptidões e talentos. De dignidade e cidadania.
 Sou um PODE portador de direitos especiais. Todos temos direitos universais. Tenho direito também aos especiais: equipamentos sociais, prioridade no atendimento público, estacionar em local proibido etc. Quero ser definido, não pela carência que atinge a minha saúde, mas pelo direito que a sociedade está obrigada a me assegurar.
Como qualquer pessoa, preciso trabalhar. Sei que não tenho aptidão para certas tarefas, devido ao meu descontrole motor. Mas de quantas coisas sou capaz, graças à minha inteligência e cultura, habilidade e talento! Sei pintar com a boca ou com os dedos dos pés; posso ensinar idiomas ou computação sem me erguer da cadeira; sou bom no controle de qualidade dos produtos.
O que seria de nós se Beethoven fosse discriminado como surdo e Stephen Hawking como aleijado? E se Van Gogh permanecesse internado após cortar a própria orelha? E se Lars Grael ficasse em casa lamentando a perda de uma perna?
 Deficiente é quem traz, na vida, um déficit com quem depende de solidariedade: o pai que ignora o filho doente; a mãe que se envergonha da filha excepcional; o empresário que exige "boa aparência" de seus funcionários; o poder público que não constrói equipamentos, nem põe na cadeia quem discrimina um portador de direitos especiais.
 Vontade de fazer as coisas eu tenho. Capacidade também. Sei que posso, sou um PODE. Só faltam oportunidades e quem reconheça que, aquém dos direitos especiais, tenho também direitos universais.
Pensemos nisso e que Deus te abençoe. Amém.


Diácono Dirceu Quinot


Estas fotos que seguem, são da festa de aniversário de 8 anos do grupo de pessoas especiais da Paróquia de Ferraz.