14 de out. de 2011

DIA DA REFORMA

“Reforma” não é uma palavra velha. É uma palavra de nossos dias. Abrimos o jornal, e lá está ela. Falam os jornais de inúmeras reformas que têm urgência em acontecerem em nosso País. Fala-se, hoje, na reforma na previdência. Reforma política. Reforma tributária. Reforma agrária.
Sabemos como é difícil promovê-las. Quem as propõe nem sempre é visto com bons olhos. Reforma implica mudança. Nem todos querem mudar. Significa ruptura. Há muitos que querem deixar tudo como está. Significa substituir o que já não serve mais. Atitude considerada antipática por muitos. Enfim, reformas, apesar da sua urgência, não são a coisa mais tranqüila neste mundo. No geral provocam resistência. Sempre há muitos interesses em jogo – de grupos e de pessoas. Muitos temem reformas porque estas significam o fim de seus privilégios.
No dia 31 de outubro – Dia da Reforma – lembramos aquele que, há 494 anos, desencadeou um dos maiores movimentos de “reforma” de todos os tempos: Martim Lutero. Foi uma reforma na Igreja, é verdade. Mas que teve profundas repercussões na vida pública, na sociedade, no mundo todo.
Neste dia, em 1517, Martim Lutero afixou na porta da igreja do castelo de Wittenberg, Alemanha, suas conhecidas 95 teses. No fundo, era um protesto daquele padrezinho de Wittenberg, professor de Bíblia na Universidade recém fundada. Queria ele provocar uma discussão acerca da venda das indulgências e da exploração religiosa do seu povo, promovidas pela Igreja daqueles tempos. Não queria provocar uma cisão na Igreja, com tantas rivalidades e inimizades -  como acabou acontecendo, lamentavelmente. Queria, isto sim, que a Igreja de Jesus Cristo passasse por uma reforma. E que voltasse a ser o que nunca deveria ter deixado de ser: criatura do Evangelho. Firmada no Evangelho. Inspirada no Evangelho. Moldada pelo Evangelho. ... Enfim, que voltasse a ser Igreja evangélica.
Igreja evangélica firma-se, em primeiro lugar, naquilo que Deus faz. Reconhece que, diante de Deus, não valemos pelo que nós fazemos, mas pelo que Deus fez por nós. E o fez em Jesus Cristo. Nele, Deus mostrou-nos o seu rosto. Revelou-nos a sua identidade. Abriu-nos o seu coração. Quem quer saber quem Deus é e como Deus age – que olhe para Jesus.
Foi o que Lutero aprendeu, estudando com muito afinco a Bíblia, palavra de Deus. E descobriu, então, que o Deus que se revela em Jesus é, por excelência, um Deus misericordioso. Agora, encontrou resposta à pergunta que o atormentara e angustiara o coração por anos: “Como conseguirei um Deus misericordioso?”.
Compreendeu: pela fé, eu já o tenho. Não mais preciso conquistá-lo. Ele, graciosamente, se presenteia a mim. Agora, estava-lhe claro: o Deus revelado em Jesus, não se vinga do pecador, não quer condená-lo e nem castigá-lo com penas e inferno – como a Igreja da época ensinava  ...  Antes, ama o pecador. Estende-lhe o seu perdão – unicamente por graça. Acolhe-o por amor – tal como o pai o fez com o filho perdido que voltou para casa. Carrega-o em seus braços, unicamente por compaixão – como o Bom Pastor o faz com a ovelha perdida.  Assim é Deus.  Esta, a mensagem da Reforma.
No Dia da Reforma não queremos, pois, celebrar um herói do passado – por mais justas e merecidas que lhe sejam as homenagens. Queremos, antes, celebrar este Deus: o Deus que é amor (I Jo 4:16b ). Que tem coração. Que é misericordioso para com todas as suas criaturas. Foi desta “redescoberta”, desta “teologia”, deste “Evangelho” que a Reforma de Martim Lutero se nutriu – e teve forças para marcar a cristandade como um todo.  Igreja evangélica não poderá esquecê-lo.
Uma última observação: O mundo mudou. Não vivemos mais no século 16. E, mesmo assim, muitas coisas se repetem. Mudanças são necessárias, também hoje. O mal anda solto. Estruturas injustas minam a vida. A corrupção é realidade vergonhosa em nosso país. Reformas são urgentes. Em muitos lugares. Na sociedade. Em nossas famílias. Em nossas vidas. Na Igreja também.
Pessoa que se sente carregada pelo Deus misericordioso não irá cruzar os braços. Vai propor e lutar por reformas onde elas se fizerem necessárias. Inspirada na misericórdia de Deus, vai traduzi-la em amor ao próximo. Vai protestar contra o mal. E deixará neste mundo a sua marca.
Assim, pensando bem, quando neste mundo – tão carente de reformas – prestamos culto ao Deus misericordioso e, em misericórdia, servimos ao nosso próximo ... sinalizamos que estamos vivendo no espírito da Reforma de Martim Lutero. É o que este dia nos estimula fazer.
Abençoado “Dia da Reforma”.
P.Lair Hessel
Venâncio Aires

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