No dia 31 de outubro de 1517 Martim
Lutero afixou as suas famosas 95 teses acerca das indulgências na porta da
Igreja do Castelo de Wittenberg. A partir daí, iniciou-se o movimento que veio
a ser conhecido como a Reforma Protestante. Ainda no séc. XVI, o dia 31 de
outubro passou a ser celebrado por alguns como dia da Reforma. Em 1667, o
príncipe-eleitor João Jorge II, da Saxônia, estabeleceu oficialmente a data em
seu território. A partir da Saxônia, foi se difundindo o costume de celebrar o
dia 31 de outubro como o dia da Reforma.
Sabemos, porém, o que, afinal,
celebramos nesse dia? Ou: o que significa ser cristão evangélico de confissão
luterana? Ou, ainda: qual foi a grande “sacada” de Lutero, que vale a pena
observar?
Com o crescimento dos grupos
chamados evangélicos no Brasil, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no
Brasil (IECLB) tem, nos últimos anos, enfatizado sua identidade como Igreja
“Luterana”. O que significa, porém, ser luterano? É evidente que ser luterano não
significa apenas que “não somos evangélicos”, p.ex., pentecostais ou batistas.
Além disto, ser luterano não significa uma veneração por “São Martim”, como se
os escritos de Lutero fossem uma espécie de segunda Bíblia.
Muito comum tem sido a identificação
da doutrina luterana com base nos quatro “somente”: Jesus Cristo, a Bíblia, a
graça e a fé. Outra forma conhecida de sintetizar o ser luterano é a chamada
“Teologia da cruz”: Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, solidarizou-se com o
ser humano e sofreu em si mesmo a consequência do nosso pecado. Ele quer que
nós, pessoas batizadas que nele cremos, tomemos a nossa cruz, sejamos
testemunhas vivas de perdão e reconciliação bem como sinais da solidariedade de
Deus com o sofrimento das pessoas e demais criaturas ao nosso redor.
Além destas duas formas de resumir a
identidade luterana, Lutero fala de uma distinção que ele considera primordial:
o Reformador se refere à capacidade de distinguir Lei e Evangelho. Na linguagem
de Lutero, “Lei” é a exigência divina que denuncia nosso fracasso e mostra que
não somos capazes de amar a Deus acima de todas as coisas nem ao nosso próximo
como a nós mesmos. “Evangelho”, por sua vez, é a boa-nova do perdão e da
salvação por graça, mediante a fé em Jesus Cristo. Como pessoas agraciadas com
o anúncio do Evangelho, os cristãos são convidados a uma prática ética de amor
ao próximo no mundo. Este chamado, Lutero não entende sob a rubrica de “Lei”,
pois, no seu entender, não se trata de apelo a construir o Reino de Deus, o céu
na terra, mas de colocar pequenos sinais deste Reino que já chegou em Jesus
Cristo e está presente entre nós mediante a boa-nova, o Evangelho.
São, pois, duas as Palavras de Deus
que nos são anunciadas. Quando participamos do culto, podemos perguntar: o que
agora está sendo dito é a exigência da Lei ou anúncio do Evangelho? A exigência
da Lei diz: “Ama o teu próximo”, e nos condena, pois não o fazemos. O Evangelho
diz: “Jesus Cristo te ama” e, assim, cobre nosso fracasso, anima a viver em
Comunidade e a praticar, em meio a falhas e tropeços, o amor ao próximo e a
solidariedade com o sofrimento das pessoas e criaturas ao nosso redor.
Que, assim, celebremos o Dia da
Reforma. Não como “veneradores” do Reformador, mas como pessoas que crêem em
Cristo e vivem a fé através do amor ao próximo no dia-a-dia.
P. Martin Dietz